Faces e FACCE muito mais do que duas mostras

For who speaks English, please see this link: http://arc-team-open-research.blogspot.com.br/2017/07/faces-and-facce-much-more-than-two.html

Conheci o pessoal do Arc-Team em 2011, trata-se de uma empresa de pesquisas arqueológicas que trabalha majoritariamente com software livre. O meu primeiro contato foi através de um post que falava sobre fotogrametria, ou seja, a técnica de digitalizar um objeto em 3D utilizando fotografias.

Apesar de não fazer tanto tempo assim, naquele ano eu pouco conhecia sobre digitalização 3D, impressão 3D, reconstrução de tomografias computadorizadas e até mesmo, quase nada sobre reconstrução facial forense.


Iniciei quase que paralelamente os estudos de fotogrametria e reconstrução facial e, graças a boa relação que desenvolvi com o pessoal do Arc-Team, pude juntar esses dois campos em um projeto muito legal, a reconstrução da face da Criança de Taung, em 2012.

Matéria ilustrada com a Criança de Taung

Esse projeto foi uma parceria entre o Arc-Tem, eu, a Universidade de Pádua e a ONG Antrocom. Nós mal imaginávamos os desdobramentos futuros de tudo isso.

Animado com a repercussão técnica dessa primeira tentativa, comecei a esboçar um novo projeto, dessa vez, tendo o arqueólogo Moacir Elias Santos na equipe. Junto a ele e apoiados pelo Museu Egípcio e Rosacruz, organizamos a primeira mostra de reconstrução facial aplicada à evolução humana, chamada Faces da Evolução que foi inaugurada no ano de 2013.

Inspirados por essa mostra, o Arc-Team e o Museu de Antropologia da Universidade de Pádua iniciaram uma nova empreitada, uma mostra focada na face humana e de nossos ancestrais da evolução. O seu nome: FACCE – i molti volti della storia umana.

Todas as reconstruções apresentadas na mostra de 2015

Enquanto a mostra brasileira era composta por 11 cartazes e réplicas de reconstruções, a mostra italiana contaria com 27 reconstruções faciais, 5 delas históricas e 22 voltadas a evolução, além de outros ambientes que tangenciariam as várias facetas de um rosto, ao redor do mundo, em tempos diferentes e em abordagens filosóficas diferentes.

Ainda no final de 2013 fui incumbido de reconstruir a face de Santo Antônio de Pádua. Essa reconstrução marcou todo o ano de 2014, posto que o trabalho foi notícia nos principais canais de TV do Brasil e da Itália, chegando a extrapolar os limites desses sendo publicado em 18 idiomas!

A mostra FACCE finalmente foi inaugurada no início de 2015 e frente ao seu sucesso, foi prorrogada até o final daquele ano.

Em 2016, utilizando o mesmo material dessa mostra, com a adição de um novo hominídeo, o Homo naledi, foi iaugurada em Genova a mostra Facce da Evoluzione.

Agora, em 2017, eu decidi fazer um levantamento, sobre a repercussão direta e indireta desse trabalho, que começou em 2012 e pouco a pouco levou a nossa técnica aos quatro cantos do mundo. Para isso, criei um clipping com todas as reportagens envolvendo as reconstruções com as quais trabalhei, bem como os idiomas nos quais elas foram publicadas. Por que os idiomas? Porquê seria simplesmente impossível organizar tudo isso tomando como base os países ou meios de comunicação. Ao focar nos idiomas, nós atestamos o quão longe o trabalho chegou.


O trabalho que teve mais ocorrências em idiomas diferentes foi a reconstrução do Paranthropus boisei, efetuada em 2013, 21 no total. Depois, a já citada face de Santo Antônio e do Homo erectus, ambas com 18 ocorrências. Na tabela acima podemos ver os demais trabalhos e os seus números.


Ao total foram 43 idiomas diferentes, que juntos somam 5,26 bilhões de falantes, ou seja, parte considerável do mundo pode ler as notícias veiculadas com o nosso trabalho!

Os idiomas com maior ocorrência foram o inglês e o português, que pareceram em 15 citações dos 15 termos selecionados. Um pouco atrás aparece o espanhol (14), seguido italiano (14), o russo (11) e o turco (9).

O mais impressionante, foi atestar que importantes sites como a BBC, Discovery Channel, History Channel, National Geographic, Scientific American, Science News, Wired, RAI, TV Globo, Enciclopédia Britânica, The Washington Post, Science News e o próprio descobridor do Homo naledi e do Australopithecus sediba, o Dr. Lee Berger, compartilharam notícias tendo como ilustração reconstruções feitas para as mostras abordadas nesse post.

O grupo Arc-Team tem como mantra sempre compartilhar os resultados dos trabalhos, desse modo, todas as imagens das reconstruções foram doadas à Wikimedia Commons, sob licença livre. Esse foi um dos principais fatores para toda essa repercussão.

O trabalho não para por aqui, ainda há muito por vir e muitos frutos surgirão como resultado das pesquisas feitas no campo da reconstrução facial de homens modernos e de ancestrais da evolução humana. Os conhecimentos que adquiri na aproximação facial desses fósseis tem me ajudado inclusive em uma das áreas que trabalho profissionalmente, o planejamento de cirurgias faciais, além de ferramentas de monitoramento de acidentes. Parece pouco provável que áreas tão distintas tenham pontos em comum, mas eles são mais numerosos do que se imagina.

Como membro dessa fantástica equipe eu só posso dizer que conquistamos o nosso objetivo principal, que era o de fazer o nosso trabalho acessível e torná-lo livre para que o maior número de pessoas pudessem utilizá-los. Que venham os próximos!


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