Sobre a exposição na mídia e articulações

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Há poucas horas o meu clipping pessoal, ou seja, o documento onde centralizo os links das matérias sobre os meus trabalhos, chegou a 100 PÁGINAS! Diante desse momento histórico, resolvi escrever esse texto, falando da minha experiência  pessoal com esses projetos que se converteram em notícias no Brasil e em outros países, transmitidas em quase 50 idiomas.

Iniciarei não necessariamente com uma confissão, mas com uma observação sobre alguns dos meus pontos fracos e fortes. Sou 3D Designer, trabalho com modelagem e animação e é essencial nesse meio, fazer bonitas imagens, que encham os olhos do público e dos clientes. Meus trabalhos não são magníficos, digamos que dão para o gasto, são caprichadinhos e nada além disso. Não me falta empenho e dedicação, mas o fato é que, ser um artista que enche os olhos alheios não tem sido o meu objetivo principal. Contento-me em entregar um trabalho aceitável e dentro dos prazos.

Se não sou muito bom em modelagem e animação 3D, em outra coisa, sem falsa modéstia eu me destaco. Sou um ótimo ARTICULADOR. E o que seria isso? Grosso modo, uma pessoa que faz as coisas acontecerem nos bastidores. Por um lado é uma realidade ingrata, pois os louros do trabalho quase nunca são reconhecidos, mas por outro, a satisfação de ver as coisas acontecerem e a experiência adquirida pagam qualquer falta de notoriedade popular.

O milagre de Santo Antônio

Não me lembro bem quando isso começou, talvez há 10 anos, quando dei os primeiros passos com o meu networking, mas sei que o processo acelerou a partir de 2011, quando retomei a minha vida depois de um evento traumático já abordado nesse espaço.

Tudo funciona de forma simples, mas bem estruturada. Um exemplo dessa capacidade aconteceu em 2014, durante os trabalhos com a reconstrução facial de Santo Antônio. O projeto original consistia em apresentar a face em 2015 durante uma mostra em Pádua. Ora, se o projeto iniciou em 2013, porque esperar tanto para contar essa boa nova ao mundo?

Meu pensamento foi simples. Eu nasci em uma cidade que o santo era padroeiro (Chapecó-SC), morava em uma cidade que o santo é padroeiro (Sinop-MT) e iria apresentar a face em uma cidade que… bem, ele também é padroeiro (Pádua, Itália). Aliás, originalmente eu não iria para Pádua. O projeto era a face ser apresentada, os meios de comunicação regionais de Trento cobririam o acontecido e quem sabe, alguma emissora internacional se interessasse por isso e também emitisse a notícia. ERA PARA SER, mas NÃO PRECISAVA SER ASSIM.

Nos bastidores eu tracei um plano e comecei a por ele em ação. Santo Antônio faria um milagre na vida de muitas pessoas, não aquele relacionado a orações e sofrimentos, mas um milagre de colocar ciência e religião lado a lado, sem que entrassem em rota de colisão. Esse projeto era algo único na minha vida, um oportunidade de fazer a população conhecer o trabalho bacana que o pessoal da computação gráfica 3D poderia oferecer ao mundo… não apenas aqueles envolvidos com software, mas com hardware também, com os estudos nas universidades, com tecnologias que no decorrer de décadas passaram de processos analógicos para os digitais, sem perderem, contudo, a sua essência.

Pedi aos chefes do projeto se eu poderia compartilhar o material com meus parceiros de pesquisa no Brasil e eles aceitaram, pois confiavam (e confiam) no meu trabalho e na minha pessoa. Acionei o pessoal do CTI Renato Archer, propondo um projeto em parceria para apresentação do busto, procurei a artista plástica Mari Bueno e outros tantos especialistas que aceitaram entrar nesse barco. O próprio Dr. Paulo Miamoto já havia sido convidado por minha pessoa a acompanhar os trabalhos, ainda quando eu não sabia de quem era o crânio. Isso pouco depois de recebê-lo, tratá-lo e prepará-lo para a reconstrução.

Foi nesse tempo que eu entrei em contato com a tal Assessoria de Imprensa. Uma empresa da minha cidade, a BW Comunicações, me auxiliou no início da caminhada, tanto compondo os primeiros textos sobre os nossos trabalhos, quanto me ensinando como portar-me em uma entrevista, através de um curso conhecido como Media Training.

Assim que terminei de modelar a face, roupas e afins, ao começo de 2014, pedi ao pessoal da Itália que havia me contratado (sim, eu fora contratado para fazer esse serviço) se me davam a liberdade de falar à imprensa que estávamos trabalhando no projeto. A resposta foi positiva. A partir daí as coisas começaram a acontecer, foi naquele momento que comecei entrar em contato com o mundo da imprensa, das mídias televisivas, online e afins.

Muita gente me perguntava o porquê de eu apenas falar sobre o projeto pois parecia algo precipitado. Não seria melhor esperar para ter a face e apresentar ela ao mundo e assim receber uma cobertura maior? Não, a minha intuição me dizia que era importante ajeitar o terreno para… quando a apresentação acontecesse, a imprensa já estivesse preparada para tal. O pessoal saberia quem era aquele nerd esquisito que estava falando em reconstrução facial 3D e não ficaria se perguntando de onde veio tudo aquilo.

Vejam bem, até então a população no geral pouco tinha ouvido falar de “reconstrução facial forense” ainda mais a nível nacional. Sim, temos boas escolas dessa técnica aqui no Brasil, mas na maioria das vezes elas estão compartimentadas em nichos acadêmicos e não chegam às massas. Aliás, aprendi muito com esse meio e sou muito grato a ele.

Além de tudo isso, a própria impressão 3D era uma novidade. Da mesma forma que a metodologia de reconstrução facial forense. A impressão 3D estava bem instalada no meio acadêmico e dos makers, mas pouco acessível a maioria das pessoas. Ao apresentar o projeto da reconstrução do santo, muitos pontos seriam contemplados:

  • Maior noção do processo de reconstrução facial digital por parte da população
  • Maior compreensão da impressão 3D
  • Maior interesse das pessoas em em aprender as técnicas
  • Criação de um nicho profissional envolvendo a computação gráfica 3D nas áreas da saúde e forense
  • Reconhecimento e valorização profissional dos participantes do projeto

De fato eu pensei em tudo isso, desde o começo. Pode não parecer, mas eu durmo pouco, trabalho bastante e fico “maquinando” essas coisas e muitas outras o dia inteiro. Inclusive, quem convive comigo até sofre com a minha rabugice ao ser “incomodado” quando estou em silêncio. Se estou quieto, geralmente a mente está arquitetando alguma coisa. Isso chega a ser um problema as vezes, pois não consigo desligar… como tenho tendência a ansiedade, tive que aprender a duras penas quando é hora de soltar o pé… senão tarefas como convívio social, namorar e dormir seriam impossíveis.

Voltando à história, depois do primeiro boom de notícias, recebi um telefonema do Fantástico, o programa dominical da Rede Globo, interessado na exclusividade da notícia. Nesse ínterim, todo o projeto inicial da mostra estava alterado. A ideia era apresentar a face do santo em um dia próximo a sua data comemorativa, que é 13 de junho, dia em que ele faleceu. Não preciso dizer que uma força articuladora agiu nos bastidores para que esse projeto se efetivasse. Decidi (sem ter um puto na época e sem nunca ter viajado para outro país) ir até a Itália participar da apresentação.

O problema era que… a apresentação estava definida para o dia 10 de junho… o domingo mais próximo era 8 de junho. Se fosse depois o Fantástico perderia a exclusividade, posto que outras TVs e veículos já contariam com a imagem do santo.

Em Pádua, Itália, no dia seguinte a apresentação da face de Santo Antônio com o principal jornal da cidade
Em Pádua, Itália, no dia seguinte a apresentação da face de Santo Antônio com o principal jornal da cidade

Novamente a “força articuladora” agiu e… eles liberaram a apresentação no dia 8 de junho no Brasil, DOIS DIAS ANTES DO QUE NA ITÁLIA! Como consegui isso? Simples, apresentei bons argumentos, explanei acerca da devoção nacional ao santo, da importância de ter uma reportagem veiculada em um canal que era apresentado a milhões e milhões de pessoas. Da chance que tínhamos de converter um projeto técnico em um acontecimento mais aberto à população e por aí vai.

No dia 8 de junho a reportagem foi ao ar e a minha vida começou a mudar bruscamente depois daquilo. Junte-se isso a apresentação da face na Itália, que rendeu outras tantas reportagens. Em pouco tempo o projeto de reconstrução se tornou um sucesso nacional e internacional.

Quando voltei ao Brasil a minha situação profissional já era outra. Agora eu dividia o tempo dos estudos e trabalhos com entrevistas. Por um período meu apelido foi o de “Garoto Fantástico” em alusão a matéria apresentada no programa dominical. Outra alcunha era a de “O cara do Santo Antônio”.

Curti bastante essa fase, afinal, foi um trabalho autêntico e eu não havia feito mal a ninguém para ter conquistado tudo aquilo. Mas, como tudo na vida, essa fase iria passar e eu me concentrei em continuar com os projetos, agora buscando mais alternativas de estudo e aproveitando a onda da reconstrução do santo, para conhecer mais pessoas e instituições.

Próteses animais

Parece papo de empreendedor de palco, mas eu realmente aprecio estudar e “pirar na batatinha”. Minha preocupação vital é manter-me ligado naquilo que aprecio, e nesse caso, aprecio estudar… aprender coisas novas, fazer networking e claro, articular. Para encurtar a história, os projetos não pararam por aí. Tivemos ainda outras duas participações no Fantástico em 2015, uma com a confecção do casco da jabota Freddy e outra com a reconstrução da face de Santa Maria Madalena (salve Dr. José Luís Lira). Isso provou muitas coisas… a principal é que não foi puramente sorte participar desse programa, algo que muita gente imaginou em 2014.

Como citei, um dos projetos que foi veiculado no Fantástico dizia respeito a confecção de prótese para um animal, algo diferente do campo inicial de estudos, que era o de reconstrução facial digital. Para quem é de fora é meio difícil entender isso, mas a tecnologia é a mesma quando falamos de computação gráfica 3D. Quando estudamos o conceito e não o fim, a chance de adaptar esse conceito em campos diferentes é muito grande.

Um projeto que envolve prótese e que foi muito importante para os nossos estudos, diz respeito a arara Gigi. Trata-se de uma arara-canindé que aparece no CEPTAS da Unimonte (Santos-SP) com a rinoteca (bico superior) com má formação. Nessa época o Dr. Roberto Fecchio que é o veterinário que nos levou a esse mundo de próteses para animais, levantou a ideia de imprimirmos a peça em titânio.

Novamente acionei o CTI Renato Archer (na pessoa do Dr. Jorge Vicente Lopes), pois eu soube que eles estavam imprimindo nesse material. Eles prontamente aceitaram nos ajudar e o projeto seguiu. Modelei a prótese seguindo as orientações do grupo formado por 6 especialistas, a peça foi impressa e a cirurgia foi acompanhada por uma equipe de televisão nacional.

A TV em questão teria a exclusividade da reportagem para o domingo próximo, mas eles não veicularam a matéria por algum motivo. Tínhamos então a liberdade para postar a notícia em nossas redes sociais. Aproveitei e publiquei as fotos na minha fanpage. O fato é que, eu não fiz apenas isso. Também compartilhei em muitos grupos que participo no Facebook e… enviei a postagem como mensagem direta a mais de 400 associações e veículos de imprensa pelo mundo. Eu passei dias fazendo isso de manhã até a noite. Algo me dizia que iria dar algum retorno interessante. E deu, não um, mas vários.

Inicialmente foquei em sites relacionados a veterinária. Primeiro enviando mensagens a sites brasileiros, depois em inglês, depois em italiano, espanhol, alemão e os outros idiomas que o Google Translator me ajudou a tomar conhecimento.

Rapidamente as pessoas dos grupos que eu havia compartilhado começaram a replicar a notícia, bem como algumas instituições relacionadas a veterinária também copiaram o texto e publicarem em suas timelines.

Alguns sites especializados em impressão 3D começaram a publicar matérias relacionadas ao feito e eu continuei replicando nos bastidores, não apenas o álbum original, mas as notícias que foram criadas a partir desse álbum.

Uma grande conquista foi ver a Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA) compartilhar a notícia em sua timeline. Isso fez com que ela fosse viralizada com mais rapidez ainda dentre os sites especializados.

Quando você tem uma fanpage no Facebook, além dos dados sobre quantas pessoas curtiram, compartilharam e comentaram um post, também recebemos os números de visitantes. Só posso dizer que nenhum outro post enviado por minha pessoa chegou aos pés daquele. Fiquei feliz quando chegou a 1000 visitantes… fiquei super feliz quando atingiu 5000… estava satisfeito, mas o número foi crescendo, 10 mil, 20 mil, 50, 100, 200… fechando em mais de 777 mil visitantes, 28 mil contanto com os compartilhamentos, 4 mil compartilhamentos diretos.

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A ficha de se tratar de um viral só caiu quando começaram a aparecer os posts dos grande canais mundiais, como a FOX dos EUA. Vejam que nos créditos aparece meu nome, indicando que a fonte foi o Facebook.

Comecei a receber uma série de mensagens de repórteres pelo mundo, um deles da CBS TV dos EUA, a mesma que produz as séries Bones e CSI. A matéria saiu em um programa chamado Inside Edition, pertencente ao canal.

A partir daí perdi o controle de onde as notícias eram publicadas e decidi fazer uma abordagem diferente. No lugar de levantar o número de canais, sites ou países, foquei no número de idiomas que a notícia saia. Qual o motivo disso? Simples. Quanto mais idiomas, maior o número de pessoas alcançadas. Quando mais exótico o idioma, significaria que a notícia chegava aos mais remotos rincões do planeta. Diferente do que muita gente pensa, matéria em inglês não é garantia de matéria lida por todo mundo.

E comecei… português, inglês, espanhol, alemão, grego (uia!), turco, birmanês (ei pera!).

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Criei um álbum na minha fanpape onde coloquei os principais sites e enumerei os idiomas nos quais a matéria foi publicada, totalizando 27 linguas diferentes, um verdadeiro absurdo! Se isso não se tratasse de um viral, realmente eu não sabia então o que era!

O número de repórteres que entravam em contato não parava de aumentar. Passei semanas atendendo-os e organizando o clipping de notícias relacionadas a arara Gigi.

O araçari e a arara

Enquanto isso aqui em Sinop-MT, a cidade em que vivo, eu articulava com profissionais locais o salvamento de dois animais. Uma outra arara-canindé e um araçari, animal muito parecido com o tucano.

Carta escrita por Luiza, 8 anos
Carta escrita por Luiza, 8 anos

A motivação de me procurarem para salvar a arara nasceu inclusive das notícias acerca da Gigi. Recebi inclusive uma cartinha de uma linda menininha, Luíza de 8 anos, pedindo se eu poderia ajudar uma arara que vivia no Parque Florestal de Sinop.

No decorrer dessa coordenação, recebi a mensagem de uma repórter, representante de uma agência de notícias francesa com sede no Rio de Janeiro. Ela informou que o seu chefe gostaria de fazer um material com os integrantes da equipe para passar em uma TV franco-alemã na Europa. Fiquei muito feliz e honrado com aquilo. Ela no entanto informou que precisava ser algo exclusivo. Raciocinei um pouco e propus que cobrissem a cirurgia que faríamos nos dois animais aqui na minha cidade. Ela repassou a ideia ao chefe que apreciou grandemente tudo aquilo. Faltava então definir uma data para que eles se deslocassem até o norte do Mato Grosso para acompanhar os procedimentos.

Vamos lá, o grupo dos Vingadores é formado por seis pessoas. Eu (3D designer, SInop-MT), Roberto Fecchio (Med. Veterinário, São Paulo-SP), Paulo Miamoto (Cir. Dentista, Santos-SP), Rodrigo Rabelo (Med. Veterinário, Brasília-DF), Matheus Rabello (Med. Veterinário, Brasília-DF) e Sergio Camargo (Med. Veterinário, São Paulo-SP). É muita gente e de lugares diferentes. São ótimos profissionais, muito ocupados e que raramente tem espaço em suas agendas. Como trazê-los para cá?

A resposta está em trazer um número mínimo, suficiente para proceder com as operações. Eu já me encontrava na cidade e graças a um evento patrocinado pela Faculdade FASIPE, na qual ministro aulas de computação gráfica, o Dr. Paulo Miamoto também estaria aqui, pois palestraria em tal conferência. Infelizmente, o Dr. Fecchio não poderia participar, em razão de sua agenda cheia. O Dr. Rodrigo Rabello se colocou à disposição para vir e arcar com os custos. Faltava o Dr. Sergio Camargo, cirurgião, peça chave em tudo aquilo. Para trazê-lo utilizei os pontos dos meus cartões de fidelidade junto a companhias aéreas. Acabei me tornando um patrocinador do projeto. E falando em patrocinador, fui atrás de outros, para ajudar com os custos de hotel e alimentação dos doutores. Tudo acabou dando certo e viabilizamos a vinda deles.

Mas a coisa não foi simples assim, antes de tudo isso, tive várias reuniões com os órgãos responsáveis pelos animais, com os tratadores, com os especialistas aqui da cidade que auxiliariam no procedimento, com os cuidadores dos animais, com eventuais patrocinadores, até com uma linda criança que iniciou essa história toda, detalhe que abordarei mais a frente.

Fechadas as datas, informei-as aos franceses que se organizaram e vieram até a cidade.

Veja bem dileto leitor… tudo o que estava acontecendo era espetacular. Pela primeira vez Os Vingadores fariam um procedimento fora do estado de São Paulo. Uma agência de notícias francesa se deslocou até a cidade para cobrir os trabalhos. Com certeza eles investiram um valor considerável, pois um profissional foi contratado especialmente para filmar o procedimento, os valores das passagens são relativamente salgados, junte isso ao hotel e o aluguel da câmera que é um modelo especial para o programa europeu. Tratou-se então de um acontecimento notório, não apenas no campo acadêmico, mas midiático também. E mais… estamos falando de uma reportagem que passaria na Europa… geralmente a gente importa conceitos, nesse caso estávamos EXPORTANDO!

Como eu já havia modelado as próteses e uma boa alma aqui da cidade as imprimiu (valeu Christian Saggin!), fiquei apenas articulando tudo. Logo na chegada dos franceses, um grande problema se apresentou. Eles alugaram uma câmera específica para filmagens e uma peça muito importante dessa câmera apresentou problemas. Essa peça era a responsável por segurar a filmadora sobre o tripé. Sem essa peça eles não poderiam continuar os trabalhos, pois além do tripé, havia outra estrutura responsável por deslocar a câmera no eixo X, aproximando e afastando ela do animal que estava sendo operado.

Apesar do clima de derrota eu não me deixei abater e comecei a ligar para todo mundo que eu conhecia e que poderia resolver esse problema. Parte da solução se apresentou quando liguei à repórter Andressa Goddois do SBT local, ela me informou que eles haviam resolvido um problema semelhante ao procurar um torneiro que esculpiu um parafuso indisponível no mercado local.

Para encurtar a história, perdemos um dia inteiro correndo atrás disso, mas ao final do dia o problema do parafuso foi resolvido. A peça ficou linda e funcional. Me lembro do repórter cinematográfico belga se aproximando e dizendo, ao final de tudo aquilo com o seu português volteado de sotaque:

Obrigado por essa energia, eu pensei que a gente não iria conseguir, mas você veio com essa energia e nós conseguimos, obrigado.

Para minha pessoa aquilo foi um dos pontos altos de todo o projeto. Isso porque no final, o que a gente faz na vida é constantemente se adaptar aos desafios. É uma luta na qual precisamos estar atentos. Com tudo resolvido no campo que cabia a nós, apareceu aquele problema que inviabilizaria as filmagens, mas a esperança e a vontade, aliada ao networking e conhecimento resolveu tudo.

Ao final do projeto, o araçari recebeu a sua prótese e no outros dia já se alimentava sozinho.

A arara infelizmente não resistiu e morreu. São ossos do ofício, pessoalmente isso me atingiu e eu não resisti a emoção, o que transparece na reportagem veiculada pela Arte TV. E sabe a menininha que enviou a carta mostrada acima? Pois é, imagina a tristeza de conversar com ela e explicar que a arara morreu.

Além disso, me abateu muito imaginar o que sentiria o tratador que a tanto tempo estava com ela. Esse episódio me ensinou a manter sigilo total dos projetos com esse tipo de risco. Quando nós informamos à mídia que esses animais receberiam cuidados, o que buscávamos era angariar apoio por parte dos empresários da cidade, o que se mostrou desnecessários depois do projeto finalizado, posto que quem nos auxiliou fora justamente um grupo de conhecidos. Episódios tristes assim não são superados com facilidade, mas o importante é manter o foco e… bem, bola pra frente.

A matéria foi publicada em francês e alemão. Estrategicamente falando, esse feito provou de uma vez por todas a importância da nossa metodologia, ao passo que colocou o Brasil e, quem diria, a minha querida cidade, no mapa das grandes inovações tecnológicas envolvendo a impressão 3D.

A jabota, outra vez ela

Logo após esse episódio aconteceu mais um que marcou a minha vida profissional. Uma agência de notícias inglesa, com sede também no Rio de Janeiro, nos procurou em 2016 para falar sobre os casos de confecção de próteses e em especial ao casco da jabota Freddy que havia sido pintado, fechando o ciclo de confecção iniciado em 2015.

A repórter Janet Tappin Coelho escreveu uma reportagem, com auxílio do fotógrafo Robson Coelho. O material foi veiculado no The Mirror e outra baseada nesse texto foi publicada no Daily Mail, ambos periódicos ingleses.

Um pouco antes da reportagem do Daily Mail, a CBS TV também havia veiculado uma matéria sobre a pintura do casco da Freddy. Um site chamado Bored Panda criou um post usando como base a reportagem da CBS e esses três materiais, CBS, Daily Mail e do Bored Panda simplesmente explodiram de uma hora para outra sendo traduzidos para vários idiomas fornecendo base para milhares de matérias.

A nossa equipe achava a viralidade da notícia envolvendo a arara Gigi jamais seria superada, mas para a surpresa de todos, não apenas foi superada… foi superada com ampla vantagem.

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Só a título de comparação, se a notícia da arara Gigi foi veiculada em 27 idiomas, as matérias acerca da jaboti Freddy foram replicadas em… pasmem… 47 IDIOMAS DIFERENTES!

O Senhor de Sipán

Desde 2014 sou convidado a palestrar em um evento conhecido como COMTEL, em Lima, Peru. Naquele ano iniciamos um projeto de reconstrução facial dos santos peruanos: São Martinho de Porres, Santa Rosa de Lima e São João Macias. Em 2015 os três santos foram apresentados e o ocorrido viralizou no Peru e em alguns outros países.

Em 2015 a Universidade Inca Garcilaso de la Vega me propôs um projeto, reconstruir a face do Senhor de Sipán. Quem? Eu pensei, jamais havia ouvido falar em tal personagem. No entanto, trata-se de uma das maiores descobertas da ciência de todos os tempos. Em 1987 a tumba desse importante soberano pré-Inca, fora encontrada intacta, plena de peças de ouro, prata e pedras preciosas. Depois de me inteirar do processo, não “botei fé” que o projeto vingaria. O pessoal da arqueologia, imaginei, não permitiria que nos aproximamos dos restos mortais de Sipán. O decano da Faculdade de Computação, indiferente as dificuldades, conseguiu conversar com o arqueólogo Dr. Walter Alva e marcou uma reunião para o próximo ano, reunião essa que contaria com a minha presença.

Viajei ao Peru no final de julho de 2016, para apresentar os bustos impressos em 3D de Santa Rosa de Lima e Sor Ana de los Ángeles. Na agenda constava uma visita ao Museu Tumbas Reales de Sipán, para coordenarmos tudo com o Dr. Alva. Bem, eu pensava que era apenas uma reunião para conversar, o fato é que assim que nos cumprimentamos, o Dr. Alva nos inquiriu se queriamos começar a trabalha. Claro!!! Quase saí correndo para a sala de Sipán. Procedemos com os trabalhos de digitalização e em setembro estava eu de volta a Lima, na companhia do Dr. Paulo Miamoto para apresentarmos a face do grande soberano Moche.

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Para resumir, a apresentação foi um sucesso, saiu primeiramente no jornal Daily Mail, na mídia peruana e depois tomou o mundo rapidamente, sendo publicada em 21 idiomas.

Poucos dias depois eu consegui montar um compacto de reportagens de TVs em 13 idiomas!

Eu costumo dizer que:

“Viral é uma coisa que quase todo mundo consegue explicar, mas quase ninguém consegue fazer”.

Nós não havíamos apenas criado um viral, mas vários. Foi assim com a reconstrução de Santo Antônio (1), com a reconstrução dos Santos Peruanos (2), com a confecção do bico da arara Gigi (3), com a história do casco da jabota Freddy (4) e com a confecção da nova prótese da gansa Vitória (5) e por fim, a reconstrução do Senhor de Sipán.

Conclusão

Agradeço a todos os que tiveram paciência e chegaram ao final desse post. O objetivo era compartilhar um pouco de minhas experiências pessoais em relação a essa coisa de exposição de mídia e sobre como tenho atuado como um articulador por trás de alguns projetos.

No final do ano passado eu chegava a minha 100ª palestra e tudo mudou depois daquilo. Fiquei mais tranquilo sobre qual evento participar, ou não, e isso aumentou o tempo com a minha família.

Agora, olhando para esse clipping de 100 páginas de matérias e mais matérias, televisivas, impressas e online, bem… de certa forma começo a me tranquilizar também. É como se eu tivesse fechado um ciclo. Sempre ele, o número 100. Recordo-me que comecei com essa coisa de contar, em um tempo que eu fora fascinado por literatura. Quando cheguei aos 100 livros lidos, parei de fazê-lo afoitamente e principiei a degustar a leitura. A ler as entrelinhas.

Espero que a partir de hoje eu também fique mais tranquilo em relação a essa loucura de projetos e mais projetos. Que eu faça menos, mas com mais qualidade e atenção. Que eu tenha tempo para curtir ainda mais a minha família, meus amigos e aqueles campos de estudos que preciso voltar a assistir.

É importante, no entanto, deixar bem claro, que sou muito grato a todos os repórteres que compuseram cada uma dessas matérias, pois eles são os guardiões da história, aqueles que registram tudo, garantindo que as gerações futuras tenham contato conosco e nos compreendam melhor.

Pessoalmente, eu precisava escrever tudo isso, necessitava compartilhar essas experiências e fechar com chave de ouro mais um ciclo. Qual será a próxima lista de 100? Haverá outra? Não sei, o que sei é permanecerei firme no meu propósito de curtir a vida sempre aprendendo coisas novas, com tranquilidade, apreciando cada momento.

Um grande abraço!


One thought on “Sobre a exposição na mídia e articulações

  1. Dalai Felinto

    Querido Cícero,
    Lindo apanhado de anedotas de feitos impactantes, e relevância pessoal e profissional.

    É bacana demais ter um gostinho do que é o trabalho invisível de articulação. Sei que tem o seu dedo em cada uma das publicações, e dava pra ter noção do trabalho que isso envolve. Fico feliz de você colher os devidos frutos desse trabalho.

    Boa sorte em suas novas empreitadas, e continue soltando o verbo.

    Um abraço grande,
    Dalai

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