Gravação do documentário sobre a reconstrução facial de Santo Antônio

Caros amigos,

Nesse post escrevi acerca do evento onde gravamos a narração do documentário sobre a reconstrução facial de Santo Antônio. Além de explanar o processo também abri o coração para alguns episódios que marcaram a minha vida de modo negativo, plenos de violência e tristeza, mas também de modo positivo ao superar esses capítulos e escrever outros que além de ajudar-me a recuperar o fôlego também motivam o próximo ao fazer o mesmo.

Espero que apreciem a leitura. Abs.

Na noite de 20 de Abril de 2015 realizou-se a gravação de palestras que servirão como base narrativa do documentário “Il Volto di Sant’Antonio”. A gravação foi efetuada pela L8 Filmes, sob a direção do publicitário Daniel Ludwig. O formato de captura e narrativa partiu da ideia do diretor de arte Teófilo Macedo, quando este ainda fazia parte da equipe da produtora.

As captações em vídeo estão sendo feitas desde abril de 2014, inicialmente em Sinop, Campinas e São Paulo. Com esse material inicial conseguimos 4 horas de gravação que se juntarão a mais 5 horas de entrevistas gravados das TVs que veicularam algum material acerca da reconstrução facial de Santo Antônio.

O projeto “Il Volto” está sendo financiado por minha pessoa e pelo diretor Daniel Ludwig (L8 Filmes). Contamos com uma forte parceria por parte da BW Comunicações (assessoria de imprensa), Nova Mídia, Mari Bueno (pintura sobre a impressão 3D), Arc-Team Itália, Antrocom, Universidade de Pádua, Centro Studi Antoniani, OFLAB-USP, Ebrafol, CTI Renato Archer (impressões 3D), Colonizadora Sinop e Faculdade FASIPE.

Organizar essa noite de palestras não foi uma tarefa fácil, principalmente pelo fato de não contarmos com valores pecuniários necessários para uma contratação de equipe que cuidaria exclusivamente da composição do evento. Uma vez que tínhamos em mente o que precisaríamos, nós fomos atrás de parcerias que pudessem viabilizar esse evento. O diretor presidente da FASIPE o prof. Deivison Benedito Campos Pinto e o professor Adriano Barreto, coordenador de Análise e Desenvolvimento de Sistemas nos ofereceram um auditório onde aconteceria parte da semana de informática idealizada pela instituição, a TecnoFASIPE. Além de ceder o espaço a faculdade também trouxe para Sinop-MT o Dr. Paulo Miamoto,  cirurgião dentista especializado em odontologia legal (FO-USP) e que participou do processo de reconstrução facial do santo. Além disso a instituição nos forneceu a impressão de 226 convites.

Inicialmente entregarmos os convites as pessoas que participaram direta ou indiretamente nos projeto. Posteriormente a representantes de classe e interessados em participar do evento. Em poucos dias todos eles (226 lugares disponíveis) foram entregues e precisamos criar uma lista de espera, isso porque depois da veiculação de notícias (release, notícia 1, notícia 2) e fotos acerca do evento vindouro apareceram mais pessoas interessadas em participar.

Precisaríamos ainda de um cenário, composto sob o padrão gráfico criado para o documentário. O professor Barreto entrou em contato com o prof. Pedro Anacleto, coordenador do curso de arquitetura da Faculdade FASIPE. Ele nos apresentou a uma de suas turmas e fechamos um parceria onde alguns dos alunos desenhariam o palco e viabilizariam patrocínio de empresas para nos fornecer os móveis, estrutura e eletrodomésticos necessários para aquele cenário.

Os graduandos Wagner Iori, Ana Paula Dos Santos Mattei, Edineia Dalabetta, Eduardo Felipe Ferreira da Silva e Jéssica Almerinda da Silva efetivaram o trabalho, inicialmente contactando empresas apoiadoras e montando o cenário no domingo e na segunda, finalizando-o pela tarde. Enquanto isso a equipe da L8 Filmes posicionava as câmeras e tudo estava pronto para o evento as 19h, quando os primeiros convidados começaram a chegar. Somos realmente muito, muito gratos a esse grupo de alunos por se mostrarem tão efetivos e cumprirem a palavra com maestria. É claro que também agradecemos o prof. Pedro, sem essa parceria estaríamos fadados a uma apresentação sem beleza visual. Obrigado!

Calculávamos um percentual de desistência de 15 a 20% dos 226 convidados, mas o evento acabou com 200 participantes (a projeção era 180). Por conta de alguns problemas de logística, aos quais trataremos em outro post, o evento sofreu um atraso, mas felizmente acabamos por iniciá-lo e seguir com a programação.

A abertura do evento foi feita pelo publicitário Paulo Schossler responsável pelo departamento de Marketing da Faculdade FASIPE.

Em seguida palestraram o jornalista Luciano Vendrame e Daniel Ludwig. Luciano é sócio-gerente da BW Comunicação, uma agência de assessoria de imprensa. Durante sua fala ele informou algo que impressionou a minha pessoa e aos presentes. Segundo levantamentos de sua equipe, somando todas as aparições que os projetos aos quais eu participei tiveram na mídia, ele estimou que meu “passe” como figura pública vale R$ 18.200.000,00. Fiquei honrado e feliz por saber disso. É evidente que se trata de uma projeção quantificada, não é um valor ao qual eu posso colocar as mãos, mas ao menos agora sei que estamos no caminho certo.

O publicitário Daniel Ludwig falou na sequência, contando alguns detalhes da história do projeto e um fato curioso: quando nos conhecemos tivemos um choque de egos. Mesmo com um mau começo a amizade evoluiu, se solidificou e se transformou em uma série de projetos, sendo o último deles e talvez o principal o documentário Il Volto di Sant’Antonio.

Na sequência, representando a Igreja Católica falou o Pe. Aecio Mees, da Catedral do Sagrado Coração de Jesus em Sinop-MT. Com uma oratória impecável ele pontuou a relação da figura de Santo Antônio com a fé, a ciência e a tecnologia através de sua reconstrução facial.

Aproveito para agradecer a artista plástica Mari Bueno por convidar pessoalmente o Pe. Aecio e também viabilizar a apresentação do busto de Santo Antônio que está sob os cuidados da Diocese de Sinop.

Fui então chamado a subir ao palco, inicialmente pleno de tensão.

O Dr. Paulo Miamoto, nosso ilustre convidado subiu ao palco comigo e continuamos a apresentação falando da reconstrução facial e seus tópicos científicos.

Esse evento, no entanto, teve algo ligeiramente diferente dos demais que participei. O diretor do documentário pediu que eu apresentasse uma visão mais pessoal e humana do projeto, que mostrasse um pouco da minha história e os motivos que levaram a usar software livre e trabalhar com reconstrução facial. Pela primeira vez em público eu compartilhei com todos um fato que marcou o meu passado e de certa forma moldou minha personalidade. Meu pai suicidou-se ao meu lado quando eu tinha 4 para 5 anos. Aquele episódio causou-me algumas consequências psicológicas como a síndrome do pânico dentre outras. Felizmente me tornei autômono em 1999 e pude levantar um numerário para ir a uma psicóloga. Essa história foi contada aqui, mas sem que eu explanasse como meu pai havia falecido.

Aproveitando que eu estava inspirado para espantar os fantasmas do passado, também falei do assalto que sofri com a minha família em 2011. Naquela oportunidade, no desepero de salvá-los, pulei em dois bandidos armados que havia nos feito de reféns por duas horas no interior da casa dos meus pais. Acabei isolando-os em um dos quartos da casa e depois de um tempo lutando, recebi um tiro que pegou de raspão na minha cabeça. Os bandidos fugiram, mas eu fiquei deprimido depois desse episódio. Acabei desenvolvendo novamente o quadro de síndrome de pânico. Outros membros da quadrilha que assaltaram a casa dos meus pais foram até a minha casa, que ficava ao lado e levaram meu computador de trabalho, com um curtametragem que eu estava animando. Sem meus arquivos e o backup de anos de trabalho, comecei a estudar algo novo, para me manter em pé. O campo de estudo era a reconstrução facial forense, a mesma que hoje tem me aberto muitas portas e permitido que o meu trabalho chegue a muitos lugares não apenas no Brasil, mas em outros países também. E é claro que Santo Antônio foi a reconstrução mais célebre que eu havia feito até 2014, ano em que foi gravado o grosso do documentário.

Para finalizar compartilhei o que mais apreciei nesse projeto, a plenitude de ter realizado uma série de sonhos nos quais um número grande de pessoas poderam participar e participaram por que desejaram. Agradeço a todos os que lá estiveram, aos que participaram e aos que a exemplo de sua pessoa, caro leitor, leram todo o post e chegaram ao seu final conhecendo um pouco mais sobre o Cícero Moraes, que não é apenas um nerd aparentemente metido, que não pára de publicar e falar de software livre e 3D, mas antes de tudo um ser humano que como todos os outros sofre e se mantém motivado ainda que muitas vezes a realidade puxe o tapete da alegria. Talvez o grande barato de tudo isso seja sempre lutar e nunca desistir, um grande abraço!