Debates e Controvérsias

Ao longo de sua trajetória, Cicero Moraes esteve envolvido em diversos debates e controvérsias que emergiram em torno de suas pesquisas, reconstruções faciais e reflexões acadêmicas. Esses embates não representam apenas confrontos pontuais, mas evidenciam a tensão natural entre inovação científica, tradição institucional e disputas narrativas em torno de temas sensíveis, sejam religiosos, políticos, históricos ou culturais.

A presente página reúne alguns dos episódios mais relevantes, não com o intuito de exaurir todos os acontecimentos, mas de registrar aqueles que tiveram repercussão significativa, seja pela notoriedade dos envolvidos, pela amplitude da repercussão midiática ou pela relevância acadêmica das respostas apresentadas.

Ao documentar esses episódios, o objetivo não é apenas registrar confrontos, mas demonstrar como a controvérsia pode ser também um motor de validação, visibilidade e avanço do conhecimento.


Moraes vs Sindonologistas (Santo Sudário)

Ano: 2025

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Artigo publicado pelo journal Archaeometry.

Motivo: No final de julho de 2025, foi publicado um artigo intitulado Formation on the Holy Shroud—A Digital 3D Approach, que indicava que a matriz do Sudário de Turim não correspondia a um corpo humano, mas provavelmente a um baixo-relevo baseado em arte tumular medieval.

Reação: O artigo gerou notícias que viralizaram em 46 idiomas, tornando-se, segundo a Altmetric, que avalia publicações acadêmicas, o mais influente da história do journal Archaeometry (Wiley+Oxford) e o segundo mais influente do mundo no campo geral de Arqueologia e História no mês de agosto. A repercussão foi tamanha que a Diocese de Turim tomou uma medida incomum, publicando uma nota de preocupação sobre o estudo, apoiando o Centro Internazionale di Studi della Sindone (CISS), que reagiu com um comunicado de imprensa visando refutar o estudo.

Desfecho: Moraes publicou uma resposta pública ao CISS, refutando os pontos relacionados ao seu estudo e outros que sustentariam a própria sindonologia. Diferentemente do que alegam os especialistas que defendem uma origem divina ou misteriosa, os estudos do STURP, equipe que analisou o Sudário de Turim in loco, não excluem a possibilidade de pigmentação anterior, tampouco comprovam que a imagem possui a profundidade de um corpo humano. Na verdade, os estudos com o VP-8, um equipamento que avalia profundidade, indicam que o modelo é mais compatível com um baixo-relevo, corroborando os achados de Moraes.


Moraes vs “Monitor da USP”

Ano: 2025

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Matéria acerca da pessquisa de Moraes.

Motivo: Durante a leitura de uma matéria sobre a última manifestação de então, Moraes observou que havia inconsistências nas alegações sobre uma suposta vantagem no número de pessoas no ato de 10/07/25 (esquerda) em relação ao de 29/06/25 (direita), uma vez que, pela margem de erro, haveria sobreposição. Inicialmente, ele enviou um e-mail ao jornal Poder 360, apontando tais inconsistências, e foi informado que um jornalista entraria em contato posteriormente. Dias após o envio do e-mail, deparou-se com uma matéria opinativa escrita pelo coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital (o “Monitor da USP”) e percebeu um claro viés em favor do espectro da esquerda. Diante dessa constatação, decidiu estudar mais a fundo o sistema de contagem de pessoas utilizado pelo Monitor e verificar se de fato haveria algum benefício para um espectro político.

Reação: Moraes baixou o código-fonte do software e as fotografias disponibilizadas pelo Monitor, realizou os cálculos e obteve um número maior para o evento da direita, contrariando as alegações do Monitor. Ao reler a matéria do Poder 360, descobriu que os dados haviam sido alterados sem os devidos créditos. Além disso, verificou que o release de imprensa disponível no site do Monitor também fora corrigido, agora afirmando que as manifestações de esquerda e direita seriam empatadas. Moraes elaborou um documento com os resultados de sua pesquisa e o disponibilizou online, incluindo o código-fonte ajustado para que outros pudessem replicar os testes.

Desfecho: Percebendo que as modificações foram feitas sem os devidos créditos, Moraes contatou Felipe Cereda, que reportou os dados ao canal Ancap.su. O canal produziu rapidamente um vídeo sobre o assunto, que viralizou e gerou um significativo debate online. Moraes enviou uma solicitação de crédito ao site do Monitor, que o colocou em contato direto com o diretor. Em comunicação por WhatsApp, o diretor afirmou que a modificação foi feita porque eles próprios haviam observado a incongruência dos dados, sem a necessidade da provocação por parte de Moraes. No entanto, Moraes apresentou evidências da datação dos arquivos, que indicavam que as modificações foram realizadas coincidentemente após o envio dos dados ao Poder 360, em horários que sugeriam certa urgência, evidenciada pela não substituição de um PDF que ainda mantinha as alegações anteriores. Após mais uma cobrança por e-mail, o Poder 360 incluiu o nome de Moraes nos créditos, mas não informou o link do documento disponível no ReseashGate. O repórter Eli Vieira publicou um artigo abordando o ocorrido, apontando a modificação silenciosa por parte do Monitor. Nas redes sociais, o Monitor recebeu críticas sobre a técnica e o formato dos releases, embora também se reconhecesse a importância do compartilhamento dos dados. Contudo, desde o episódio, apesar de ainda compartilhar os dados de contagem com a imprensa, o Monitor não atualiza seu site desde o ato de 10/07/25 (até 9 de setembro, data desta edição), justamente o evento analisado no documento de Moraes.


Moraes vs QIs Ultra Altos

Ano: 2025

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Matéria que aborda os limites de testes padronizados de QI.

Motivo: Ao tomar conhecimento do recorde mundial de QI de 276 e do recorde nacional de 233, Moraes decidiu estudar os testes psicométricos padronizados e normalizados disponíveis no mercado e amplamente publicados no contexto acadêmico.

Resultados: Ao pesquisar, descobriu que o QI de 276 não foi aferido por um teste padronizado, ou seja, carece de suporte acadêmico. Já o QI de 233 se trata de uma extrapolação de um teste que fez quando criança (36 meses) cujo detentor do número sequer recorda o nome do mesmo. Todo o levantamento foi agrupado no documento publicado online.

Ao pesquisar, descobriu que o QI de 276 não foi aferido por um teste padronizado, ou seja, carece de suporte acadêmico. Já o QI de 233 refere-se a uma extrapolação de um teste realizado quando o detentor tinha 36 meses, cujo nome ele sequer recorda. Todo o levantamento foi compilado no documento The Problem of Ultra-High IQs, publicado online.

Desfecho: A pesquisa gerou matérias na mídia nacional que questionavam o QI de 276, publicadas no canal Fatos Desconhecidos e no jornal Extra, da Globo. Posteriormente, Moraes disponibilizou outro estudo em preprint, demonstrando que, a partir de 139 de QI na escala Wechsler, os valores não possuem robustez estatística. A partir disso, passou a estudar o conceito de genialidade dentro de parâmetros acadêmicos, tendo um dos textos publicados no site Aventuras na História e, posteriormente, outro sobre a reconstrução facial de Beethoven, bem como suas características associadas à genialidade. Esse estudo obteve significativo reconhecimento ao ser incluído no acervo da Beethoven Haus-Bonn, a principal instituição mundial dedicada ao legado do compositor. O feito também repercutiu nacionalmente por meio da TV Record News.


Moraes vs Academia de Ciências da República Tcheca (CAS)

Ano: 2024

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Esquema simplificdo do confronto Moraes vs CAS.

Motivo: Diante da grande repercussão nacional da aproximação facial de Jan Žižka, realizada por Moraes, Jiri Šindelář e equipe, o Instituto de Arqueologia da Academia de Ciências da República Tcheca, em uma manobra inédita, emitiu uma nota pública criticando duramente o trabalho. A nota alegava que não seria possível reconstruir as regiões faltantes do crânio, que a apresentação da face era mais um evento midiático do que científico, que carecia de evidências científicas e que poderia configurar uma fraude.

Reação: Moraes elaborou uma resposta pública na qual: 1) Apontou o desconhecimento do Instituto de Arqueologia em relação às técnicas de aproximação facial forense, destacando que 91% das aproximações relacionadas ao CAS foram realizadas por ele e sua equipe; 2) Esclareceu que o artigo sobre a aproximação de Jan Žižka foi revisado por pares e incluía um estudo piloto demonstrando o funcionamento da técnica de reconstrução de regiões faltantes, comprovando sua robustez científica; 3) Evidenciou que nenhuma aproximação do CAS contava com publicação revisada por pares, enquanto Moraes e sua equipe já haviam publicado, apenas naquele ano, cinco artigos revisados por pares sobre o tema, sendo, em todo o histórico de publicações, três deles em colaboração com membros do CAS; 4) Denunciou publicamente o assédio por parte de membros do CAS, que, desde 2021, buscavam prejudicar sua reputação, a partir do episódio com Kvetina (ver abaixo); 5) Refutou a presidente do CAS, que insinuou que um dos trabalhos de Moraes envolvendo São Adalberto carecia de explicações, sendo desmentida com a publicação de um artigo em um jornal revisado por pares, contendo tais informações.

Desfecho: O embate repercutiu na mídia tcheca e brasileira, que cobriu a primeira parte do confronto. Posteriormente, com a publicação de um artigo científico revisado por pares sobre a aproximação facial forense, que incluiu testes cegos, demonstrou-se que a técnica era robusta e havia cumprido o formalismo acadêmico, refutando o CAS e abalando a imagem da academia e de seus apoiadores na elaboração da nota. Após esse episódio, Moraes realizou outros trabalhos de reconstrução forense no país, como a face de Venceslau da Boêmia, que obteve ampla repercussão nacional, e a de Australopithecus afarensis Lucy, cujos ossos foram enviados ao país, com o trabalho viralizando mundialmente. Em nenhum desses casos, o CAS voltou a se manifestar, e a participação de um importante funcionário do presidente da república em um dos artigos publicados evidenciou que a tentativa de difamar Moraes, iniciada por membros do CAS desde 2021, não prosperou.


Moraes vs Hawass & Saleem

Ano: 2024

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Matéria veiculada no site árabe Al-Ain.

Motivo: Em face à grande repercussão mundial da aproximação facial de Amenhotep I o Dr. Zahi Hawass e a Dra. Sahar Saleem escreveram um artigo depreciativo acerca do trabalho no jornal Al-Ahram. Segundo eles a abordagem de Moraes não seria científica, pois se tratava de uma obra de arte e não de algo acadêmico, que não poderia em hipóstese alguma usar os estudos dos dois autores como base da reconstrução e que se tratava de uma abordagem afrocentrista. O Dr. Hawass inlcusive ameaçou o brasileiro com uma campanha de difamação midiática que sujaria o seu nome.

Reação: Moraes elaborou uma refutação pública na qual: 1) Demonstrou que o trabalho era científico, destacando que ele próprio já havia sido citado positivamente em publicações da Dra. Saleem e que atuara como revisor em um dos artigos dela; 2) Esclareceu que não estava envolvido com qualquer movimento cultural, seja afrocentrismo ou eurocentrismo, e que a pigmentação de Amenhotep I era, inclusive, compatível com um trabalho publicado por Saleem; 3) Afirmou que podia, sim, utilizar os artigos e imagens publicados pelos egípcios como base para o trabalho, uma vez que a licença Creative Commons escolhida permitia tal uso.

Desfecho: Moraes confrontou os egípcios em suas redes sociais, foi bloqueado pela Dra. Saleem, e o Dr. Hawass não cumpriu sua ameaça de difamação. O debate repercutiu na mídia brasileira, no site Aventuras na História, e na mídia árabe, com ambas as matérias favoráveis ao brasileiro. Após o caso de Amenhotep I, outros trabalhos foram realizados utilizando como base as publicações Creative Commons de Saleem e sua equipe, sem qualquer manifestação por parte dela ou de Hawass.


Moraes vs Freire

Ano: 2024

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Matéria veiculada no jornal Gazeta do Povo.

Motivo: Ao investigar o projeto de alfabetização de 40 horas realizado em Angicos, Brasil, que trouxe grande notoriedade a Paulo Freire, Moraes constatou com base em documentação de acesso público que o curso teve na verdade 38 horas, sendo apenas metade dedicada à alfabetização. Dos 300 alunos inicialmente matriculados, apenas 122 realizaram a prova final. Desses, somente 82, equivalente a 27% dos matriculados, obtiveram notas acima da média no processo de alfabetização, que consistia em aprender algumas sílabas, escrever o próprio nome e um número limitado de palavras. Os achados foram publicados em um artigo de acesso aberto.

Reação: A publicação do artigo gerou um significativo debate nas redes sociais.

Defecho: Matérias sobre a pesquisa foram publicadas pela Revista Oeste e pelo jornal Gazeta do Povo.


Moraes vs Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito

Ano: 2023

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Captura da nota oficial publicada pelo Ministério.

Motivo: Em face à grande repercussão mundial da aproximação facial de Nazlet Khater 2, em paralelo com o lançamento da série Cleópatra, a mídia Egípcia e vozes como o Dr. Zahi Hawass se levantaram contra o trabalho insinuando que se tratava de um esforço afrocentrista e woke, dado que a atriz do documentário era negra e a aparência pigmentada de Nazlet Khater também. O Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito emitiu uma nota afirmando que a aproximação facial não seguiu procedimentos científicos, que carecia de licença para a captura do vídeo que serviu como referência de reconstrução, que os pesquisadores não contavam com os dados da mensuração estrutural, e que portanto o trabalho não teria credibilidade.

Reação: Foi redigida uma resposta pública por parte de Moraes, demonstrando que: 1) Era permitido aos turistas filmarem e fotografarem os restos mortais de Nazlet Khater; 2) Que haviam dados de mensuração estrutural publicados academicamente; 3) Que a ancestralidade africana negra foi observada pelos pesquisadores que analisaram os restos mortais na década de 1980 e publicaram formalmente os estudos; 4) Que havia uma versão em escala de cinza da face, sem os cabelos, focando na objetividade do trabalho.

Desfecho: O Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito não emitiu mais nenhuma nota e uma notícia sobre o caso e a resposta de Moraes foi publicada pela mídia árabe (em inglês).


Moraes vs Květina

Ano: 2021

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Artigo publicado sobre a aproximação facial de Santa Ludmila.

Motivo: Diante da grande repercussão nacional da aproximação facial de Santa Ludmila nos meios de comunicação tchecos, Petr Květina, arqueólogo da Academia de Ciências da República Tcheca (CAS), escreveu uma matéria difamatória na revista Respekt, com o apoio da antropóloga Petra Urbanová, criticando a técnica empregada. Segundo Květina, a porção remanescente do crânio não permitiria a reconstrução das partes faltantes, configurando um erro ou até mesmo uma fraude científica.

Reação: Cicero Moraes e Jiri Šindelář, os responsáveis pela aproximação facial redigiram uma resposta ao artigo, demonstrando que: 1) Reconstruções faciais com remanescentes são possíveis e documentadas; 2) Que o laboratório chefiado pela Dra. Urbanovà usava uma reconstrução efetuada por Moraes na página de abertura, além de indicá-lo como literatura acadêmica recomendada.

Desfecho: Moraes, Šindelář e outros submeteram um artigo sobre o trabalho de reconstrução facial de Ludmila para o journal Digital Applications in Archaeology and Cultural Heritage, que passou por revisão por pares e foi publicado. No artigo eles aboram uma nova técnica de reconstrução estrutural óssea a partir de remanescentes, demonstrando que é possível projetar a estrutura mesmo que o crânio não esteja completo. A projeção compatibilizou-se com o modelo proposto por Emanuel Vlček nos anos 1990, que fora a base da reconstrução. A publicação serviu como refutação formal a Květina e Urbanová.

OrtogOnLineMag

Ano: 2020

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Captura parcial da capa do #2.

Motivo: Durante a pandemia de 2020, com a significativa redução de interação social, Moraes iniciou um amplo processo de produção técnica. Diante do intenso fluxo produtivo e das constantes atualizações na documentação do OrtogOnBlender, que a tornavam extensa e um tanto prolixa, ele decidiu criar uma revista técnico-científica própria para organizar e armazenar esses conteúdos.

Reação: Moraes nomeou a revista OrtogOnLineMag, utilizando como base de produção a ferramenta Sphinx, do Python, para gerar duas versões a partir de um mesmo código: uma em HTML para visualização em navegadores e outra em PDF (via LaTeX) para impressão. O primeiro número foi publicado próximo ao final de 2020, com significativa participação de codesenvolvedores do OrtogOnBlender e de alunos. Com o tempo, a revista técnico-científica manteve regularidade, com dois números publicados por ano. Contudo, por ser uma publicação com características de preprint, enfrentou críticas de alguns veículos de imprensa e acadêmicos desconfiados de seus avanços e resultados.

Desfecho: As publicações da OrtogOnLineMag mantiveram sua regularidade, inclusive adiantando os volumes em um ano. Até o momento, a revista encontra-se no número 12 (Vol. 7, nº 1), com 71 artigos publicados, dos quais 6 passaram por revisão por pares e foram aceitos em outras publicações. Outros artigos foram citados em trabalhos acadêmicos formais, servindo como base didática e complementação documental do OrtogOnBlender, enquanto alguns ganharam notoriedade, tornando-se notícias virais nos meios forense e científico. Entre os destaques estão a inclusão de artigos no acervo de publicações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e no banco de artigos do museu Beethoven-Haus, em Bonn. O artigo sobre a reconstrução facial de São Nicolau de Mira, que deu origem à lenda do Papai Noel, foi destaque em matérias publicadas em 53 idiomas. Diante da regularidade das publicações, das inovações apresentadas e testadas, do reconhecimento técnico e cultural e do compromisso com o rigor acadêmico, a OrtogOnLineMag consolidou-se como um periódico confiável, influente e bem-sucedido, projetando a reconstrução facial forense e o próprio OrtogOnBlender no cenário global.

OrtogOnBlender

Ano: 2014-2017

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Guia de corte em planejamento digital no OrtogOnBlender.

Motivo: Desde o início da década de 2010, Moraes já esboçava trabalhos de reconstrução anatômica utilizando o Blender. Contudo, foi a partir de 2014, com a notoriedade de suas reconstruções faciais, que ele passou a ser procurado por cirurgiões interessados em aplicar a computação gráfica 3D no planejamento cirúrgico. Em poucos meses, o cirurgião-dentista Dr. Everton da Rosa, seguido pelo cirurgião plástico Dr. Rodrigo Dornelles, contrataram Moraes para aprenderem suas técnicas de computação gráfica e reconstrução de tomografias. Dessas parcerias, surgiu uma abordagem inovadora, inicialmente focada no uso personalizado do Blender para o planejamento de cirurgias ortognáticas e na confecção de guias de posicionamento e corte. Com o tempo, a colaboração evoluiu para a oferta de cursos abertos, que atraíram significativa procura de cirurgiões interessados em dominar essas técnicas.

Reação: Por conta das necessidades específicas dos alunos cirugiões, Moraes iniciou em 2017 o desenvolvimento do OrtogOnBlender, um add-on escrito em Python que simplificava algumas tarefas dentro do Blender, evitando que os usuários efetuassem uma série de comandos repetitivos. Posteriormente, foram incorporadas funcionalidades como importação direta de tomografias computadorizadas, digitalização de faces em 3D a partir de fotografias e outras ferramentas avançadas. Aos poucos, o OrtogOnBlender ganhou adoção, despertando interesse e sendo apresentado em eventos especializados em cirurgia facial. Contudo, por ser uma inovação em fase experimental, sem publicações revisadas por pares, a ferramenta enfrentou críticas e foi alvo de deboche por parte de alguns especialistas.

Desfecho: Com o passar do tempo e o uso contínuo por cirurgiões e técnicos, aliado à publicação de estudos de caso de cirurgia ortognática por desenvolvedores e alunos, tanto em trabalhos de pós-graduação quanto em artigos revisados por pares, o OrtogOnBlender demonstrou a robustez necessária para o campo. Ao longo dos anos, suas aplicações foram ampliadas e documentadas, abrangendo áreas como cirurgia óssea em bebês, documentação em urologia, cirurgia plástica (rinoplastia), próteses faciais, aproximação facial forense, reconstrução de fraturas mandibulares, próteses veterinárias e estudos de reabilitação oral, entre outros. Atualmente o OrtogOnBlender é usado por cirurgiões de 33 países.

Reconstrução Facial Forense

Ano: 2011-2014

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Reconstrução facial forense do jovem de Areni (Armênia).

Motivo: No ano de 2011, Moraes sofreu um assalto enquanto visitava os pais, sendo rendido junto com a mãe, o padrasto e um sobrinho. Durante as duas horas em que esteve rendido por ladrões armados, teve sua casa furtada por outros membros da quadrilha que faziam apoio externo. Por ser o único dentre os presentes com condições de dirigir, foi encaminhado para fora sob a mira de dois revólveres. Quando percebeu que a família estava fora de perigo, entrou em luta corporal com os dois elementos, arrastando-os para um quarto e isolando-os. Durante a luta, um deles disparou um tiro, que passou de raspão na região parietal posterior esquerda da cabeça. Os ladrões empreenderam fuga, mas Moraes desenvolveu um quadro agudo de ansiedade e depressão por conta do episódio traumático. Uma matéria de TV gravada minutos depois, registou o ocorrido.

Reação: Buscando a superação do episódio, Moraes passou a estudar um assunto que lhe chamou a atenção quando ainda criança: a reconstrução facial forense. Ele comprou um livro e começou a aplicar as técnicas, até conquistar os primeiros resultados. Pouco tempo depois, entrou em contato com a equipe Arc-Team, um grupo de arqueólogos da Itália, e recebeu a autorização para reconstruir um crânio digitalizado em 3D por eles. A equipe apreciou o resultado e, tempos depois, convidou Moraes para compor uma mostra com cinco figuras históricas de Pádua (dentre elas Santo Antônio, casamenteiro), na Itália, e outras 23 reconstruções da evolução humana. Além do Arc-Team, o CTI Renato Archer de Campinas, bem como o OfLab da USP também ofereceram apoio nos primeiros estudos, projetos e publicações. No entanto, mesmo com esse apoio técnico, justamente por se tratar de um indivíduo autodidata, sem formação na área, Moraes enfrentou preconceito e ameaças legais por parte de alguns especialistas do meio forense.

Desfecho: Moraes superou psicologicamente o trauma do assalto sofrido, ignorou críticas e ameaças e continuou dedicando-se à reconstrução facial forense. Desde então, já realizou 150 reconstruções faciais, desenvolveu técnicas próprias e publicou dezenas de trabalhos revisados por pares na área; dentre eles um com reconhecimento e identificação de vítima de crime. Em uma coletânea de 50 reconstruções faciais selecionadas pelo renomado outlet de divulgação científica Science News, nove foram de autoria de Moraes, representando quase um quinto do total, representando quase um quinto do total, configurando-o como uma das autoridades mundiais do campo.